Não tem graça nenhuma enganarmos uns aos outros

Escrito por Valter Junior.

Não é por acaso que peças de teatro, programas de TV, filmes e outras expressões artísticas que falam do cotidiano dos casais, fazem tanto sucesso. Filmes como "Se eu fosse você" e programas de TV como "A Grande família" levam os expectadores a se verem nos personagens sem o ônus de lidar com as consequências de suas personalidades.

Quando a arte mostra à vista de todos o que na vida real as pessoas fazem em oculto, rimos intimamente de forma cúmplice a pensar "ainda bem que ninguém sabe que faço o mesmo" ou nos deparamos com o olhar acusador de quem vive conosco e sabe que fazemos e nos defendemos dizendo que não é bem assim. O sujeito que deixa a toalha molhada em cima da cama ou o personagem que lambe a colherinha do açúcar depois de mexer o café levará muitos ao riso. As diferenças entre homens e mulheres já tão explanadas em livros como "Os Homens são de marte e as mulheres são de Vênus" ou "Por que os homens mentem e as mulheres choram" também farão com que muitos riam de si mesmos ao verem narrados seus comportamentos pouco maduros. Não tenho problemas para lidar com essas realidades que aí estão, mas quando alguém que possui algo muitíssimo superior para compartilhar, a saber, a Palavra de Deus, e prefere aquilo que faz sucesso em termos de entretenimento, em vez de compartilhar a verdade que nem sempre faz rir, mas que é o que todos nós precisamos, fico muito preocupado. Não raro em palestras para casais vemos TODOS "rolando de rir". O comentário após a palestra, enquanto se recuperam das risadas, é que o palestrante deveria ser comediante em vez de pastor. Quem me conhece sabe que não tenho qualquer problema com relação ao riso.

No entanto, sei que muitos casais vão a palestras e encontros por já terem chorado muito seus problemas conjugais e ao chegarem a palestra, encontram um cenário de intensa alegria provocada por alguém que faz com que riam uns dos outros valendo-se dos seus próprios erros e pecados. Deus tenha misericórdia dos que falam a casais para que estes resistam a tentação de "ganhar" o auditório com risos. Tantos gracejos também tem sua fonte na exploração de temas mais voltados para a sexualidade, os quais habitualmente não são tratados nas reuniões regulares da Igreja, mas são intensamente explorados no dia a dia pela TV, de sorte que o palestrante se vê à vontade e com permissão para piadas de duplo sentido e insinuações maliciosas, as quais levam todos ao delírio ao verem o palestrante, quase sempre um referencial de espiritualidade, "descendo ao nível" dos que exploram esse tema em programas de humor na TV. Deveria ser até sem sentido ou desnecessário um apelo a que os pregadores apenas preguem a palavra.

O que auxiliar a pregação a título de ilustração, será bem vindo, mas o que servir para substitui-la, temos que rejeitar. Temos algo superior ao que anda sendo oferecido aos casais em meio a uma sociedade sem valores. Se a Palavra levar as lágrimas ou a sorrisos, não terá sido esse o objetivo, mas sim a consequência natural da ação do Espírito Santo ao aplicar a Palavra ao coração. Deus nos guarde também, na condição de ouvintes, de cairmos na tentação do riso falso para com isso tentar ocultar nossa realidade nem sempre feliz no relacionamento conjugal.

O auditório que sai rindo à vista de todos, quase sempre não tarda a chorar em secreto os problemas ainda sem solução. É provável que nossa atitude de rejeição ao riso fácil provocado por meias verdades, sirva para fazer saber aos palestrantes que queremos a preciosidade que temos na Palavra de Deus, e não a palha do riso fácil. A graça da qual queremos ouvir e compartilhar não é a dos shows de humor, mas a que se manifesta em amor, paz e alegria no Senhor.